sexta-feira, 23 de abril de 2010

Saudades de Portugal

Hoje assisti uma reportagem sobre brasileiros que moram em Portugal. Por algum momento, tive o sentimento de ter sido "teletransportada além mar", como se isso fosse possível. O que sei é que veio a tona a saudade de Portugal, dos lugares que passei, dos amigos que (re)conheci, das oliveiras, dos aromas, das iguarias, enfim de tudo que vivi quando lá esteve a minha morada, a minha alma. Termino aqui com um poema.

Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Travessia

Com a chegada do fim de ano e tudo o que envolve a passagem de ano, ficamos mais sensíveis e introspectivos, é como se cada um fizesse um balanço da vida. Sentimo-nos tocados pelo clima de Natal e do Ano Novo, mesmo que para alguns o Natal seja triste e o Ano Novo uma tortura. O fato é que nesta época específica estamos frente a frente as escolhas e sentimos uma necessidade ímpar de resolver as pendências. Alguns agem por impulso, não sendo capazes de resolver durante o ano inteiro o que tinham por resolver, querem decidir e não mais arrastar a pendência para o próximo ano, como se isso fosse alguma forma de azar. Crenças a parte, o tempo foi dividido para que pudéssemos nos organizar, traçarmos metas e por que não nos conhecermos melhor? Os momentos decisivos deveriam contar com as pausas que os antecede e norteiam as nossas escolhas. O que era bom para mim ontém, hoje já não é mais e o que é bom para mim hoje, pode não ser amanhã. A vida é movimento e estamos em um porcesso contínuo de evolução, é por isso que as dúvidas fazem parte das nossas vidas e nos impulsionam a desenvolver o que há de melhor em nós.
Termino aqui com uma mensagem de Fernando Pessoa:
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."